O 3º Seminário da ABERC “Novos rumos da alimentação coletiva: inovação e estratégia” trouxe o painel “Cenários Econômicos para 2026: Perspectivas e Impactos para o Segmento”. O especialista sênior em coordenação e gerência de compras e vice-presidente da Associação Brasileira dos Profissionais de Compras (ABCP), Antonio Marques Cruz, destacou os fatores que devem pressionar os custos.

Marques também explicou como o clima e o cenário global podem influenciar a operação das empresas e apontou os principais pontos de atenção para o próximo ano.

Quer saber mais? Confira a entrevista completa com Antonio Marques Cruz.

Como fatores macroeconômicos e o calendário de 2026, com a Copa do Mundo e as Eleições, podem afetar o setor de refeições coletivas no Brasil?

Os fatores macroeconômicos projetados para 2026 têm potencial de mexer diretamente na estrutura de custos das empresas. A tendência de queda da Selic pode estimular a demanda reprimida, puxar o consumo e criar pressão sobre preços, já que a indústria brasileira está defasada e pode não conseguir atender à demanda de forma eficiente. O risco de crédito no agronegócio também preocupa: com o aumento dos pedidos de recuperação fiscal e menor disponibilidade de financiamentos, produtores podem ter dificuldade para manter a produção e os estoques, elevando custos ao longo da cadeia.

No campo geopolítico, a disputa entre Estados Unidos e China — acentuada pela imprevisibilidade do governo Trump — pode afetar o acesso a fertilizantes, logística internacional e preços de commodities, que são a base central do setor.

Eventos sazonais também devem ser considerados. A Copa do Mundo tende a reduzir dias úteis e alterar dinâmicas de consumo e entrega, afetando transporte, abastecimento e a operação diária dos restaurantes corporativos. O mesmo vale para o calendário eleitoral: contratações públicas podem ficar represadas e alguns segmentos podem sofrer paradas ou ajustes temporários na demanda. Somados aos feriados prolongados, esses fatores mexem diretamente no planejamento de insumos, no fluxo de compras e na estabilidade da mão de obra.

Em relação às commodities agrícolas, quais são as perspectivas para 2026?

Será um ano desafiador para as commodities agrícolas, principalmente devido ao clima, que deve alternar entre La Niña, neutralidade e El Niño. Esse cenário pode gerar excesso de chuva no Sul, seca no Centro-Oeste e aumento das queimadas no Norte, afetando produção e logística. Com isso, culturas como soja, milho e trigo tendem a sofrer mais, resultando em menor produtividade, oferta instável e pressão adicional de custos ao longo da cadeia.

Quais insumos devem ter maior pressão de custo no próximo ano?

As commodities agrícolas devem ter forte pressão de custo em 2026. A soja deve ser impactada pelo clima e pela alta demanda global, especialmente da Ásia. O milho tende a sofrer tanto com o excesso de chuva no Sul quanto com a seca no Centro-Oeste, enquanto o trigo permanece sensível às instabilidades climáticas e logísticas. As proteínas animais, sobretudo a bovina, também devem encarecer por causa da seca e do aumento no custo de alimentação.

Entre os demais insumos, os fertilizantes continuam pressionados pela crise geopolítica e pela dependência da China. A energia elétrica e térmica tem tendência de alta, elevando os custos das cozinhas industriais. A logística deve ficar mais cara em razão de mudanças na malha, feriados, Copa do Mundo e impactos climáticos. Além disso, com o desemprego projetado em 6,6%, a mão de obra deve ficar mais disputada, aumentando a pressão salarial. Todo esse conjunto aponta para um ambiente de custos crescentes, exigindo planejamento e negociações mais estratégicas com fornecedores.

Como as mudanças climáticas podem interferir nos custos do setor?

As mudanças climáticas devem afetar diretamente os custos e a disponibilidade de insumos no setor de refeições coletivas em 2026. A combinação de La Niña, neutralidade e El Niño no mesmo ano aumenta a instabilidade na produção e na logística. Esse cenário pode gerar quebras de safra, com excesso de chuva no Sul prejudicando grãos e hortifrutis, enquanto a seca no Centro-Oeste afeta soja, milho e proteínas. A menor produtividade encarece a produção, e eventos como enchentes, queimadas e estiagens podem interromper rotas, atrasar entregas e elevar o frete. As condições climáticas também pressionam os custos de energia elétrica e térmica e tornam a oferta mais instável, especialmente no caso de perecíveis, exigindo ajustes constantes de cardápio e maior gestão de risco.

 

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